quarta-feira, 25 de março de 2009

Equipe: "Você aceita flores?"


TEXTO


Diga não à violência


Nas últimas décadas nota-se uma evolução no comportamento feminino. Mulheres ocupando cargos anteriormente caracterizados como “masculinos” é um fato comum atualmente mas, em contrapartida, nunca foi visto tantos casos de violência contra mulher, principalmente a violência doméstica.


Chega ser contraditório o fato de que as mulheres possuem muito mais liberdade que outrora e muitas delas ainda preferem o silêncio. Graças a coragem da mulher que deu nome à lei Maria da Penha, as mulheres tem a possibilidade de exigir que todos respeitem seus direitos já que a lei garante proteção e não se restringe apenas a violência física bem como a violência sexual, psicológica, patrimonial e moral.


A violência contra mulher constitui uma violação dos direitos humanos e se faz necessário que essa realidade mude. É fundamental conscientizar às vítimas de que a omissão nesses casos serve de incentivo para que a agressão tenha continuidade e o que começa com uma simples discussão pode chegar até à morte, como é visto em inúmeros casos.


Só resta a esperança que as vítimas façam valer seus direitos e assumam o poder de decisão, abandonando uma vida de silêncio e dando um novo rumo a sua história.



ENTREVISTA


Entrevista referente à violência doméstica feita pela equipe: Adrielle Pereira, Priscila Vieira, Rosilene Pereira, Simone Freire; realizada com Daniela da Silva, 25 anos, soteropolitano-BA, ensino fundamental incompleto, dona de casa, vitima de maus tratos do marido durante três anos. Mãe de dois filhos com este agressor, cujo tem 25 anos.


EQUIPE – Em que momento da vida de vocês é possível visualizar as primeiras discussões e insinuações de violência?


DANIELA – “Tudo ocorria bem ate eu descobrir que aos 22 anos estava grávida. Eu já namorava com ele há um ano e já vivia na casa dele com a minha sogra e a irmã dele. Já havíamos discutido varias vezes por motivos banais, mas quando o contei que estava grávida brigamos serio, pois ele queria que eu tirasse a criança, chegou ate a dizer que se eu não tirasse, ele mesmo tiraria.”


EQUIPE – qual a sua reação mediante a postura de desrespeito e agressão do seu marido?


DANIELA – “Como eu morava com ele, sendo que minha mãe e meu pai moram no interior (Santo Amaro - BA), tinha medo de contrariá-lo e ele me por na rua. Tomei um Citotec, remédio que grávida não pode tomar se não aborta, porém nem com esse remédio eu perdi o filho. Ai minha filha nasceu. E as brigas persistiam e se agravavam, ate o dia que ele me espancou e a família dele me acudiu.”


EQUIPE – A senhora procurou algum tipo de ajuda especializada nesses casos?


DANIELA – “Não. Algumas vezes recebi conselho dos familiares dele, de que o deixa-se, que eu era uma moça bonita, jovem e estava me acabando com ele. Quando chegava no hospital machucada, mentia para os atendentes dizendo que havia caído ou algum tipo de descuido meu. Mas eu amava muito ele, e ele, eu também acho que me amava, por isso não o denunciava.”


EQUIPE – A senhora conseguia visualizar a gravidade do problema? Estava consciente de que corria risco de morte? Por que não tentava mudar de vida?


DANIELA – “Estava consciente sim, mas era melhor ter um teto, comida e correr risco de morrer com os meus filhos, do que está na rua sem teto, sem comida e continuar correndo o mesmo risco. Se eu ao menos tivesse completado o ensino fundamental, talvez pudesse ter um trabalho melhor do que eu tenho de biscate.”


EQUIPE – Qual o posicionamento de seus pais com esses maus tratos?


DANIELA – “Minha família não sabe. Todos moram longe e não tem condições de me visitar. Quando me ligam digo que está tudo bem.”


EQUIPE – Seus filhos como reagem? Qual o relacionamento dele com as crianças?


DANIELA – “A mais velha tem 3 anos e o mais novo tem 1 ano, como não entendem muita coisa só fazem chorar quando vêem agente discutindo. Ele apesar de não aceitar minha gravidez, trata muito bem as crianças.”


EQUIPE – Qual a sua situação atual? Como ficou sua relação com o seu marido/ex-marido?


DANIELA – “Hoje me encontro morando numa casa de um quarto com meus filhos que ele paga. Pois de não aguentar mais essa vida de brigas entramos nesse acordo. Ele vem de vez em quando ver as crianças e trazer o dinheiro do mês. Entre nós, de afeto, não existe mais nada, nos separamos.”

4 comentários:

  1. A entrevista está ótima. No texto da entrevistada percebe-se um aspecto importante: alguns homens procuram mulheres do interior por serem, talvez, mais desprivilegiadas economicamente ou, ainda, por acharem que essas meninas são menos "descoladas" ou mais "retraídas". Trazem-nas para a Capital e acreditam que elas ficarão subordinadas a eles. Muitas meninas sonham em morar na Capital, casando com um homem que possa tirá-las da vida difícil do interior, muitas vezes rural. A criança de 03 anos pode não entender o motivo, mas já foi afetada.

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  2. Em relação ao texto reflexivo achei que vocês fossem tratar da violência psicológica, pois o gesto de agredir e, depois, suavizar oferecendo flores é um gesto muito comum usado para manter a mulher em um jogo masoquista alternando dor e prazer.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Não vejo os nomes dos componentes....

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