quinta-feira, 26 de março de 2009

Equipe: "Mulheres ou objetos?"



TEXTO

A mulher na publicidade: um retrato da discriminação.


Se analisarmos as campanhas publicitárias de bebidas alcoólicas, especialmente cerveja, produtos de limpeza, automóveis, desodorante masculino, identificaremos um ponto em comum a todas elas: há sempre uma mulher nelas. A mulher tem sido utilizada na publicidade por duas razões principais: pelo seu poder de influenciar a compra, criando uma identificação; e pelo seu poder de sedução, através de um objeto de desejo, em especial nas situações em que é utilizada apenas como elemento de decoração. Porém, invariavelmente, ela está destinada a papéis associados à família, com carga emocional e afetiva maior, ela aparece sempre desempenhando tarefas domésticas enquanto o homem desempenha papéis profissionais, com cargos executivos e uma dimensão social mais ascendente.


Essas campanhas apenas retratam e reforçam a violência contra a mulher existente na nossa sociedade que, infelizmente ainda é uma realidade que faz com que cada sexo tenha seu determinado papel social. Se não bastasse esse “papel principal” bastante discriminatório nas campanhas, muitas delas nem enxergam a mulher como um ser pensante, ver apenas um corpo sensual, capaz de apresentar o produto ao mesmo tempo em que ela própria é um produto, altamente persuasivo. Se não bastasse essa violência elas ainda retratam mulheres brancas, magras, jovens e bonitas reforçando um estereótipo1 de beleza feminina longe da realidade. O maior exemplo são as campanhas de cerveja. Esse é, aliás, o produto que mais reduz o corpo feminino ao consumo.


O que se esperaria de uma sociedade em pleno século XXI com muito mais informação, avanço tecnológico e acesso as mídias é um pouco mais de igualdade, com respeito às diferenças. Essa violência contra a mulher e seu papel na sociedade é hoje inconcebível uma vez que homens e mulheres possuem os mesmos direitos e deveres, e devem ser respeitados. Porém, discriminações como essa – ilustradas pelas campanhas abaixo, assim como as de raça, cor, religião, etc., são muito freqüentes e figuram como principais fatores estruturais das condições de pobreza e desigualdades sociais que ainda vemos no mundo de hoje.



Entrevista

Equipe: Ana Carla dos Santos, Conceição Araújo, Lorena Lins, Maria Regina Vieira, Priscila Matos.

     Nossa equipe entrevistou a psicóloga Clarissa de Almeida, recém formada pela UNIFACS, e trabalha em uma ONG infantil situada no bairro de Tubarão (Paripe)

 

 

1- Clarissa, o que é violência psicológica?

 

A violência psicológica consiste em um comportamento (não-físico) específico por parte do agressor. Muitas vezes, o tratamento desumano tais como: rejeição, depreciação, indiferença, discriminação, desrespeito, punições (exageradas) podem ser consideradas um grave tipo de violência.

 

2- Quais são as características básicas que identifica que, uma mulher está sendo vítima de violência psicológica?

 

Em geral, toda vez que provocam ações humilhantes a quem sofre, para gerar a ridicularização pública no ambiente onde ela se encontra.



3-Por quais motivos podemos acreditar que a mulher passou a ser objeto de propaganda?

 

Simplesmente pelo fato de sermos vistas como objetos de realização para todos os machões “ridículos” (risos)

 

 

4- Nas propagandas de cervejas, onde algumas marcas fazem uso de imagens femininas, estão ali forjadas violência contra a mulher? E como as identificamos?


 A imagem da mulher na propaganda – especialmente nos anúncios de cerveja – estava a merecer, e não é de hoje, um estudo mais sério. Já era hora de alguém tentar explicar porque beber cerveja só é um prazer completo quando os homens são cercados por mulheres seminuas. Elas são identificadas a todo o momento uma vez que mostra a imagem de mulheres perfeitas, lindas e satisfeitíssimas em aumentar o ego dos homens envolvidos, e a realidade das mulheres do século 21, é outra, essas propagandas ferem a minha moral, não fere a sua?

5- que motivos contribuem para que a mulher, vítima de atrocidades psicológicas, viva o sentimento de condescendência?

 

O fato de vivermos em um mundo machista, já é um fator, o fato de a cerveja ser um produto direcionado a eles aliado ao fato de sermos indispensáveis a vida deles é um outro fator, é como se fosse algum tipo de realização pessoal, como se eles passasem a ser desejados pelas lidas modelos das propagandas ao consumirem a cerveja!

 

6-Como a violência psicológica reflete na vida das mulheres violentadas?

 

Esta modalidade, muitas vezes não deixa (inicialmente) marcas visíveis em nós, mas podem levar à graves estados psicológicos e emocionais. Muitos destes estados podem se tornar irrecuperáveis em um indivíduo, de qualquer idade, antes saudável. Um estudo feito pela universidade de Londres atesta que 80% das mulheres que sofrem problemas psíquicos na fase adulta já sofreram algum tipo de violência psicológica na adolescência ou até mesmo na fase adulta.

 

7-Como deve proceder  uma mulher vítima de violência psicológica?

 

Assim como em qualquer outro tipo de violência sofrida pela mulher, elas devem dirigir-se a uma delegacia mais próxima e prestar um queixa. Sabemos que o quadro de violência psicológica ainda é “rejeitado” pelas autoridades porem se não houver uma divulgação por parte das mulheres, ela vai continuar...

 

Um comentário:

  1. Achei o texto bem articulado. A questão da violência presente nas propagandas já possui alguns estudos. A relação mulher e cerveja, por exemplo, foi feita pressupondo-se que o público consumidor é homem e hetero, portanto, se está reforçando um fetiche a partir do corpo feminino. Observe o perfil das mulheres: jovens, com ênfase no rosto (cabelos longos em geral) seios, glúteos e pernas. Várias leituras são possíveis: A cerveja você consome, assim como a mulher; Com a cerveja, a mulher vem junto, etc.

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